O consumo de agua por aqui é tão restrito que para qualquer francês o que nos brasileiros fazemos com ela é, no minimo, idiota. Como a higiene esta diretamente ligada ao uso da agua, fica mais facil entender porque o francês carrega a fama de sujinho se entendermos primeiro o valor que a agua tem para eles.
Ha não muitas décadas atras, a agua era um bem bastante escasso e nem todos os andares dos prédios eram servidos por agua encanada, que normalmente so chegava até o segundo andar - onde viviam os mais ricos. Os que moravam la para cima, não so tinham que subir mais lances de escadas, como também precisavam descer para buscar agua em fontes publicas ou pagar pelos serviços dos entregadores do liquido precioso a domicilio. Assumo que se eu precisasse fazer isso todos os dias, talvez reduzisse meu numero de banhos a um... por mês.

Se manter limpo hoje em dia ja não é tão dificil, afinal a agua chega limpinha (e cheia de calcario!) em todas as residências, de ricos e pobres. Mas por causa do conceito diferente que o francês tem de banho, os mais tradicionais se recusam a instalar duchas em suas casas. Explico.

Como o banho (aquele de banheira) é para os franceses uma coisa muito especial, ele não pode ser diario. Afinal, encher uma banheira e mergulhar o corpo nela demanda tempo, dinheiro e dedicação, o que não pode ser feito todos os dias. O que eles fazem diariamente é a sua "toilette", o que nos chamamos de banho de gato. Claro que muitos tomam uma ducha, mas não é a regra entre os mais idosos e todos os dias, religiosamente, o francês tipico faz a sua toilette matinal. Enche a pia de agua quente e com uma luvinha umedecida e ensaboada, higieniza seu corpo de cima abaixo.

Provida de todas essas informações e certa de que os habitos atuais de uma sociedade possuem raizes em costumes de antigamente, passei a entender melhor a função da toalhinha, o amor pelas banheiras e a birra contra os chuveiros elétricos. Ao mesmo tempo, estou certa de que os povos evoluem e de acordo com as necessidades do seu proprio tempo, devem se adaptar para viver bem uns com os outros. Entre banhos longos em banheiras imensas e higienização com toalhinha umedecida, uma ducha (rapida, para não gastar muito) me parece a solução ideal. Dificil é convencer um francês tradicional de que uma ideia que surgiu longe do seu casulo hexagonal, é a melhor a ser seguida.
*Informações tiradas do livro "Os Franceses", de Ricardo Corrêa Coelho.
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